
Genazzano fora domínio da família Colonna, e é um autêntico exemplo das cidades medievais fortificadas. Devido às guerras freqüentes, ora contra bárbaros e infiéis, ora entre senhores feudais, as cidades (ou burgos) eram construídas em locais que dificultassem o assédio de tropas inimigas e facilitassem a defesa. Eram circundadas por grossas muralhas com sentinelas a postos.


Na paisagem montanhosa da Itália, mais do que em qualquer outra parte da Europa, vêem-se essas cidades que parecem verdadeiros ninhos de águia, invariavelmente dominadas por altivas torres e elegantes campanários.

Com o passar do tempo e a pacificação dos contendores, as construções iam-se estendendo para fora dos muros. Desses vários fatores resultara aquele conjunto que eu tinha diante dos olhos[1]




Logo à entrada, uma parte da antiga muralha da cidade, com as marcas do tempo. Embora construída com uma finalidade prática evidente, não estava ali ausente a criatividade artística.

Um arco de pedra simples e gracioso, acima do qual um escudo com as armas da cidade, adornando o muro não retilíneo, encimado por ameias. Sob o arco um calçamento bem cuidado, e sem a monotonia geométrica dos traçados modernos, dava acesso ao interior da área fortificada.Ruas de traçado irregular, estreitas, sinuosas. Quase se diria que os habitantes de Genazzano tinham horror à linha reta. São vias e construções não projetadas, abertas pelo caminhar quotidiano das gerações. Surgiram espontaneamente, organicamente, na medida do necessário e do possível. Uma casa se constrói porque há um espaço vago; uma rua se abre respeitando a
posição da casa; em seguida uma escada ampla ou estreita comunica duas ruas em grande desnível; um arco reforça duas construções contíguas, mas ao mesmo tempo adquire uma função estética. Porque teria de ser tudo retilíneo e simétrico?
Sem a monotonia do urbanismo planejado, a cidade adquiriu uma feição extremamente pitoresca e variegada. Surgiu do labor das gerações ao longo dos séculos, cada uma contribuindo com o seu esforço e criatividade. Ali está patente a presença do trabalho de todos, o que lhe dá uma personalidade própria, e todos se sentem identificados com aquele conjunto, que reflete um pouco das características de cada um e de cada estirpe.

Impossível descrever em detalhes uma cidade em que cada ângulo é diferente, cada casa é uma engenhosa individualidade, cada rua uma surpresa gerada e modificada ao longo dos séculos, e cada habitante uma curiosa síntese de passado e presente, em perfeita harmonia com tudo aquilo.
Compreende-se que turistas endinheirados e apressados não tenham sensibilidade e paciência para apreciar uma cidade assim. Mas há pessoas de bom gosto que se deslocam do mundo inteiro à procura dessas pequenas jóias arquitetônicas e urbanísticas, elaboradas por sucessivas gerações, geralmente pobres e não alfabetizadas, porém ricas em talento e criatividade.

Ladeiras íngremes, escadas intermináveis. Tudo me forçava a percorrer lentamente a subida rumo ao santuário. Decididamente a cidade não fora construída por pessoas que têm pressa ...


Tendo repousado nosso espírito, exausto das trepidações contemporâneas, acompanhando esta interessante e rica descrição e analisando, nas fotos, alguns dos múltiplos aspectos de uma cidade tão pitoresca, entremos no Santuário e examinemos de perto o afresco de Mater Boni Consilii.
[1] Entre os devotos de Nossa Senhora do Bom Conselho, encontra-se um antigo amigo do autor, que viveu um bom tempo em Roma.
As páginas da revista brasileira "Catolicismo", na edição de abril de 1986, estamparam a pormenorizada e bela reportagem sobre a cidade de Genazzano, fruto de suas freqüentes peregrinações ao Santuário local. Da mencionada reportagem sobre tão simpática cidade temos o prazer de reproduzir alguns trechos neste capítulo. Dificilmente se fariam comentários mais adequados às fotos que o ilustram.
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